terça-feira, 10 de agosto de 2010

RESUMOS

ÁLVARO PEREIRA DO NASCIMENTO (UFRRJ - CEO-PRONEX – PROCAD)
Revolta da Chibata: Históra e historiografia

Continuamente lembrada como um importante movimento social da Primeira República, a Revolta da Chibata é um tema abordado por um número ainda pouco significativo de historiadores – se levarmos em conta as diversas questões possíveis de pesquisa no que tange ao tema. Esta comunicação objetiva realizar um histórico e um balanço dessas importantes contribuições, bem como apresentar sugestões para novos estudos. Um manancial importante de documentos sobre o assunto já foi explorado. Embora saibamos que os mesmos podem e devem ser revisitados, há outros tipos de fontes que gostaria de apresentar como alternativa para novas investigações sobre o tema.

HÉLIO LEÔNCIO MARTINS (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro)
A criação de um mito

Como e por que se cria um mito – de uma pessoa, de um acontecimento ou de uma circunstância – que fica na História? No Brasil, está sendo criado o mito de um herói, João Candido, humilde marinheiro que, corajosamente, desafiou o governo, obrigando-o a abolir o uso da chibata, castigo aplicado na Marinha. Como nasceu e evoluiu a revolta de 1910, da qual é ele considerado chefe, e qual o seu papel na mesma? Os pontos estudados serão: a reação no Congresso e na imprensa; a vitória e a anistia; a Marinha que a seguiu, com os navios desarmados, mas perigosa porque dominada por elementos radicais; a segunda rebelião; a atuação de João Cândido; os castigos; o mito; a impropriedade da História em transferir a situação de um século atrás para a atualidade.

JOSEPH LOVE (Universidade de Illinois)
Revolta da Chibata: dimensões internacionais, aspectos ideológicos e perspectivas novas da segunda rebelião

A palestra pretende explorar a dimensão internacional da revolta, como a recepção da imprensa estrangeira e dos diplomatas, mas também as viagens dos navios da Marinha de Guerra brasileira, sobretudo a ida a Portugal do encouraçado São Paulo nos dias que antecederam a proclamação da República nesse país e a questão do republicanismo no meio dos marinheiros portugueses. Também considerarei as explicações "ideológicas" da revolta de novembro de 1910 e algumas novas descobertas quanto à revolta de dezembro do mesmo ano. Assim, a apresentação enfocará três elementos: a reconstituição histórica, a recepção internacional e os sentidos e razões da revolta, tendo em vista que a própria recepção internacional ajuda a compreender esses sentidos.

JOSÉ MIGUEL ARIAS NETO (UEL)
A revolução dos marinheiros de 1910 - Memória e Historiografia

Muito já se escreveu sobre o movimento dos marinheiros de 1910. Se por um lado o assunto é bastante debatido em alguns espaços sociais específicos, por outro, permanece pouco conhecido do grande público. Ao longo desses cem anos que nos separaram dos eventos ocorridos na capital da República de então, um grande debate ocorreu envolvendo civis de vários setores sociais e militares da Marinha. Somente nos anos 90 do século XX, no entanto, os acadêmicos começaram a se debruçar mais sistematicamente sobre a questão. Neste trabalho, pretendo analisar o desdobrar da memória sobre a historiografia mais contemporânea e, ao mesmo tempo, levantar algumas hipóteses que apontam possibilidades interpretativas para este movimento e sobre o "esquecimento" ao qual é aparentemente relegado.

MÁRIO MAESTRI (UPF)
A Revolta dos Marinheiros Negros de 1910: o nacional, o internacional, o passado e o presente.

Por sua organização, amplitude e programa, a Revolta dos Marinheiros da Armada de Guerra de novembro-dezembro de 1910 constitui fenômeno relevante da história social e política do Brasil, jamais repetido, no relativo às forças armadas republicanas. Trata-se de realidade inteligível apenas no contexto de dois fenômenos importantes, de inícios do século 20. Primeiro: a radical modernização técnica da marinha de guerra do Brasil, que a equiparou às armadas dos países capitalistas, no contexto da permanência do tratamento despótico dos marujos, em grande maioria negros e mestiços, herdado das práticas da armada nos tempos da escravidão. Segundo: a influência no nível de consciência dos marujos nacionais da revolta dos marinheiros revolucionários russos, de 1905, que ensejou que a revolta brasileira aprofundasse aquela experiência. A paradigmática sublevação dos marujos, em 1910, testou os limites da ordem republicana elitista da Primeira República, no espaço dos sucessos objetivos, como ainda segue testando estruturas institucionais pouco permeáveis à efetiva democratização, no mundo das representações historiográficas.

SÍLVIA CAPANEMA PEREIRA DE ALMEIDA (Universidade de Paris 13)
Vidas de marinheiro no Brasil republicano: identidades e lideranças da revolta de 1910

A presente comunicação pretente discutir, a partir de alguns resultados de minha tese de doutorado ("Nous, marins, citoyens brésiliens et républicains: identités, citoyenneté et mémoire de la révolte des matelots de 1910", EHESS, Paris, 2009), as principais origens, identidades e trajetórias dos marujos – e em menor escala, dos soldados navais – na época da Revolta da Chibata. Assim, apresentarei, em um primeiro momento, alguns dados relativos ao perfil coletivo dos praças da marinha e, em um segundo momento, as trajetórias das principais lideranças, tendo em vista estabelecer um estudo de caráter prosopográfico indispensável à compreensão do levante.

TANIA MARIA TAVARES BESSONE DA CRUZ FERREIRA (UERJ-CEO-PRONEX- CNPq-FAPERJ)
A imprensa e o contexto da “Revolta da Chibata”: história e historiografia

A imprensa do Rio de Janeiro tornou-se um elemento de larga importância na divulgação sobre movimentos sociais, as transformações da cidade e as contradições do governo republicano. Nesta apresentação destacarei questões que contextualizaram a chamada “Revolta da Chibata” e como a historiografia contemporânea a discute.

ZACHARY ROSS MORGAN (Boston College)
Radicalismo transatlântico e as raízes britânicas da Revolta da Chibata

Como marinheiros alistados, os homens que organizaram e executaram a Revolta da Chibata conceberam seu plano enquanto esperavam pela construção dos encouraçados de modelo dreadnought em Newcastle, na Inglaterra. Aproximadamente 1.000 marinheiros brasileiros foram enviados ao país europeu com o objetivo de serem treinados para garnir os navios na viagem de volta pelo Atlântico. Em média, esses homens permaneceram em Newcastle por mais de sete meses, hospedando-se em hotéis locais e interagindo livremente com a população dessa cidade portuária internacional. A palestra sustenta, assim, que o tempo que passaram em Newcatle foi uma parte essencial da constituição da revolta contra a punição corporal que abalou a Marinha brasileira em 1910.

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