sábado, 21 de agosto de 2010

APRESENTAÇÃO

Revolta da Chibata - 100 anos:
História e historiografia

O ano de 1910 foi marcado no Brasil pela eclosão da “Revolta dos Marinheiros”, conhecida posteriormente como “Revolta da Chibata”, título do livro-reportagem do jornalista Edmar Morel publicado em 1959. Para além da memória da cidade do Rio de Janeiro, da Marinha Nacional e de movimentos sociais, o levante tornou-se um dos tópicos da História do Brasil no período da Primeira República e recebeu, sobretudo a partir dos anos 1990 e 2000, um novo tratamento e interesse historiográfico no país e no exterior.

Este encontro pretende reunir pela primeira vez os principais pesquisadores especialistas do tema na atualidade, buscando contemplar a pluralidade de abordagens sobre o assunto. Trata-se, portanto, de criar oportunidade para apresentação e debate dos resultados de tais trabalhos com a comunidade científica (desde alunos de Graduação até professores e pesquisadores de Pós-Graduação) e com um público de interessados, no ano do centenário da Revolta da Chibata.

O evento será organizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e com apoio de agências de financiamento científico. O evento será gratuito, aberto ao público e serão fornecidos certificados de presença para quem comparecer ao menos a três sessões. A apresentação de cada expositor terá duração de 40 minutos e será seguida por um debate de 20 minutos. Estão previstas duas apresentações na parte da manhã – eventualmente três no segundo dia – e duas à tarde, totalizando oito ou nove palestrantes, a serem confirmados.

domingo, 15 de agosto de 2010

PROGRAMAÇÃO

Dia 9/09

9h30 | Recepção

10h às 12h | Contexto, ideias e recepção nacional e internacional
Coordenador: André Campos (Departamento de História da UERJ)

Tania Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira (UERJ- CEO-Pronex - CNPq)
A imprensa e o contexto da Revolta da Chibata: história e historiografia.

Joseph Love (Universidade de Illinois)
Revolta da Chibata: dimensões internacionais, aspectos ideológicos e perspectivas novas da segunda rebelião.

14h às 16h | Memória e Marinha
Coordenador: Marco Morel (UERJ)

José Miguel Arias Neto (UEL)
A revolução dos marinheiros de 1910 - Memória e Historiografia

Hélio Leôncio Martins (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro)
A criação de um mito

Dia 10/09
9h30 | Recepção

10h às 12h | Identidades, trajetórias e circulações
Coordenadora: Tania Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira (UERJ- CEO-Pronex - CNPq)

Zachary Ross Morgan (Boston College)
Radicalismo transatlântico e as raízes britânicas da Revolta da Chibata

Sílvia Capanema Pereira de Almeida (Universidade de Paris 13)
Vidas de marinheiro no Brasil republicano: identidades e lideranças da revolta de 1910

14h às 16h | Historiografia, sentidos e novas aberturas
Coordenadora: Sílvia Capanema Pereira de Almeida (Universidade de Paris 13)

Mário Maestri (UPF)
A Revolta dos Marinheiros Negros de 1910: o nacional, o internacional, o passado e o presente

Álvaro Pereira do Nascimento (UFRRJ - CEO-Pronex – PROCAD)
Revolta da Chibata: históra e historiografia

18h | Exibição do documentário “João Cândido e a luta pelos Direitos Humanos”
Direção de Tania Quaresma e produzido pela Fundação Banco do Brasil.
Debate com Adalberto Cândido (filho do marinheiro João Cândido) e com os organizadores do evento.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

RESUMOS

ÁLVARO PEREIRA DO NASCIMENTO (UFRRJ - CEO-PRONEX – PROCAD)
Revolta da Chibata: Históra e historiografia

Continuamente lembrada como um importante movimento social da Primeira República, a Revolta da Chibata é um tema abordado por um número ainda pouco significativo de historiadores – se levarmos em conta as diversas questões possíveis de pesquisa no que tange ao tema. Esta comunicação objetiva realizar um histórico e um balanço dessas importantes contribuições, bem como apresentar sugestões para novos estudos. Um manancial importante de documentos sobre o assunto já foi explorado. Embora saibamos que os mesmos podem e devem ser revisitados, há outros tipos de fontes que gostaria de apresentar como alternativa para novas investigações sobre o tema.

HÉLIO LEÔNCIO MARTINS (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro)
A criação de um mito

Como e por que se cria um mito – de uma pessoa, de um acontecimento ou de uma circunstância – que fica na História? No Brasil, está sendo criado o mito de um herói, João Candido, humilde marinheiro que, corajosamente, desafiou o governo, obrigando-o a abolir o uso da chibata, castigo aplicado na Marinha. Como nasceu e evoluiu a revolta de 1910, da qual é ele considerado chefe, e qual o seu papel na mesma? Os pontos estudados serão: a reação no Congresso e na imprensa; a vitória e a anistia; a Marinha que a seguiu, com os navios desarmados, mas perigosa porque dominada por elementos radicais; a segunda rebelião; a atuação de João Cândido; os castigos; o mito; a impropriedade da História em transferir a situação de um século atrás para a atualidade.

JOSEPH LOVE (Universidade de Illinois)
Revolta da Chibata: dimensões internacionais, aspectos ideológicos e perspectivas novas da segunda rebelião

A palestra pretende explorar a dimensão internacional da revolta, como a recepção da imprensa estrangeira e dos diplomatas, mas também as viagens dos navios da Marinha de Guerra brasileira, sobretudo a ida a Portugal do encouraçado São Paulo nos dias que antecederam a proclamação da República nesse país e a questão do republicanismo no meio dos marinheiros portugueses. Também considerarei as explicações "ideológicas" da revolta de novembro de 1910 e algumas novas descobertas quanto à revolta de dezembro do mesmo ano. Assim, a apresentação enfocará três elementos: a reconstituição histórica, a recepção internacional e os sentidos e razões da revolta, tendo em vista que a própria recepção internacional ajuda a compreender esses sentidos.

JOSÉ MIGUEL ARIAS NETO (UEL)
A revolução dos marinheiros de 1910 - Memória e Historiografia

Muito já se escreveu sobre o movimento dos marinheiros de 1910. Se por um lado o assunto é bastante debatido em alguns espaços sociais específicos, por outro, permanece pouco conhecido do grande público. Ao longo desses cem anos que nos separaram dos eventos ocorridos na capital da República de então, um grande debate ocorreu envolvendo civis de vários setores sociais e militares da Marinha. Somente nos anos 90 do século XX, no entanto, os acadêmicos começaram a se debruçar mais sistematicamente sobre a questão. Neste trabalho, pretendo analisar o desdobrar da memória sobre a historiografia mais contemporânea e, ao mesmo tempo, levantar algumas hipóteses que apontam possibilidades interpretativas para este movimento e sobre o "esquecimento" ao qual é aparentemente relegado.

MÁRIO MAESTRI (UPF)
A Revolta dos Marinheiros Negros de 1910: o nacional, o internacional, o passado e o presente.

Por sua organização, amplitude e programa, a Revolta dos Marinheiros da Armada de Guerra de novembro-dezembro de 1910 constitui fenômeno relevante da história social e política do Brasil, jamais repetido, no relativo às forças armadas republicanas. Trata-se de realidade inteligível apenas no contexto de dois fenômenos importantes, de inícios do século 20. Primeiro: a radical modernização técnica da marinha de guerra do Brasil, que a equiparou às armadas dos países capitalistas, no contexto da permanência do tratamento despótico dos marujos, em grande maioria negros e mestiços, herdado das práticas da armada nos tempos da escravidão. Segundo: a influência no nível de consciência dos marujos nacionais da revolta dos marinheiros revolucionários russos, de 1905, que ensejou que a revolta brasileira aprofundasse aquela experiência. A paradigmática sublevação dos marujos, em 1910, testou os limites da ordem republicana elitista da Primeira República, no espaço dos sucessos objetivos, como ainda segue testando estruturas institucionais pouco permeáveis à efetiva democratização, no mundo das representações historiográficas.

SÍLVIA CAPANEMA PEREIRA DE ALMEIDA (Universidade de Paris 13)
Vidas de marinheiro no Brasil republicano: identidades e lideranças da revolta de 1910

A presente comunicação pretente discutir, a partir de alguns resultados de minha tese de doutorado ("Nous, marins, citoyens brésiliens et républicains: identités, citoyenneté et mémoire de la révolte des matelots de 1910", EHESS, Paris, 2009), as principais origens, identidades e trajetórias dos marujos – e em menor escala, dos soldados navais – na época da Revolta da Chibata. Assim, apresentarei, em um primeiro momento, alguns dados relativos ao perfil coletivo dos praças da marinha e, em um segundo momento, as trajetórias das principais lideranças, tendo em vista estabelecer um estudo de caráter prosopográfico indispensável à compreensão do levante.

TANIA MARIA TAVARES BESSONE DA CRUZ FERREIRA (UERJ-CEO-PRONEX- CNPq-FAPERJ)
A imprensa e o contexto da “Revolta da Chibata”: história e historiografia

A imprensa do Rio de Janeiro tornou-se um elemento de larga importância na divulgação sobre movimentos sociais, as transformações da cidade e as contradições do governo republicano. Nesta apresentação destacarei questões que contextualizaram a chamada “Revolta da Chibata” e como a historiografia contemporânea a discute.

ZACHARY ROSS MORGAN (Boston College)
Radicalismo transatlântico e as raízes britânicas da Revolta da Chibata

Como marinheiros alistados, os homens que organizaram e executaram a Revolta da Chibata conceberam seu plano enquanto esperavam pela construção dos encouraçados de modelo dreadnought em Newcastle, na Inglaterra. Aproximadamente 1.000 marinheiros brasileiros foram enviados ao país europeu com o objetivo de serem treinados para garnir os navios na viagem de volta pelo Atlântico. Em média, esses homens permaneceram em Newcastle por mais de sete meses, hospedando-se em hotéis locais e interagindo livremente com a população dessa cidade portuária internacional. A palestra sustenta, assim, que o tempo que passaram em Newcatle foi uma parte essencial da constituição da revolta contra a punição corporal que abalou a Marinha brasileira em 1910.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

PESQUISADORES

ÁLVARO PEREIRA DO NASCIMENTO
Mestre e doutor em História pela Unicamp (1995-2002). Concluiu o bacharelado e a licenciatura em História pela UFF (1994). Em 1999, ganhou o Prêmio Arquivo Nacional com a dissertação de mestrado "A ressaca da marujada: recrutamento e disciplina na Armada Imperial , publicada em 2001. Em 2003, sua tese de doutorado foi vencedora do Concurso de Teses de Doutorado sobre Relações Raciais e Cultura Negra no Brasil, do Centro de Estudos Afro-Brasileiros e Fundação Ford. Recentemente, em 2008, sua tese foi publicada com o título Cidadania, cor e disciplina na Revolta dos Marinheiros de 1910, pela editora Mauad. Publicou 4 livros, 5 capítulos de livros, 2 artigos em revistas especializadas, 3 artigos em magazines, 2 em jornais, 1 verbete. Participou de eventos no Brasil, nos Estados Unidos, Porto Rico, Argentina, Canadá e em Portugal. Orientou 14 trabalhos de conclusão de curso nas áreas de História e Educação. Atualmente orienta 4 mestrandas e 6 bolsistas de Iniciação científica, e participa de 4 projetos de pesquisa. Atua na área de História, com ênfase em História do Brasil e História da África. Professor

HÉLIO LEÔNCIO MARTINS
Vice- almirante da Marinha do Brasil. Autor do livro : A revolta dos marinheiros, 1910, São Paulo, Editora Nacional; Rio de Janeiro, Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1988. Autor de diversos artigos sobre a Revolta dos Marinheiros e sobre a Marinha durante a Primeira República.

JOSÉ MIGUEL ARIAS NETO
Graduação em Historia pela Universidade Estadual de Londrina (1986), mestrado em História Social pela Universidade de São Paulo (1993) e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (2001). Atualmente é membro de comissão - Tribunal Regional do Trabalho da 9º Região, pesquisador associado do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Estadual de Campinas, pesquisador associado ao Laboratório de Estudos sobre Intolerância da Universidade de São Paulo e professor associado da Universidade Estadual de Londrina. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil Império, atuando principalmente nos seguintes temas: História, História Política/ com ênfase em História Política do Império e dos anos iniciais da República Brasileira, Ciência e Filosofia Política Contemporânea.Autor da tese: Em busca da cidadania: praças da Armada nacional, 1867-1910, Departamento de História, Universidade de São Paulo, 2001.

JOSEPH LOVE
Professor emérito na Universidade de Illinois, Urbana-Champagne. Diretor do The Center for Latin American & Caribbean Studies and Lemann Institute for Brazilian Studies, Universidade de Illinois. Autor de livro nos Estados Unidos sobre a Revolta da Chibata (no prelo), dentre outros. Autor de artigos sobre a mesma revolta (especialmente recepção no exterior).

MARCO MOREL
Graduação em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1985), mestrado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1990), mestrado em História - Université Paris 1 (Panthéon-Sorbonne) (1992) e doutorado em História - Université Paris 1 (Panthéon-Sorbonne) (1995). Atualmente é professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pesquisador associado - Université Paris 1 (Panthéon-Sorbonne). Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil Império, atuando principalmente nos seguintes temas: história política, brasil império, história cultural, história da imprensa e história do brasil.
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4780898H2

MÁRIO MAESTRI
Possui graduação em Ciências Históricas - Université Catholique de Louvain (1977), mestrado em Ciências Históricas - UCL (1977) e doutorado em Ciências Históricas - UCL (1980). Atualmente é professor titular do Programa de Pós-Graduação da Universidade de Passo Fundo. Realizou estágio de pós-doutoramento na Bélgica e semestre sabático em Portugal. Tem experiência na área de história social, história e literatura, história e arquitetura, com ênfase em História do Brasil, atuando principalmente nos seguintes temas: história do Brasil, história do Rio Grande do Sul, história da escravidão no Brasil, história da escravidão no Rio Grande do Sul; história da colonização italiana no Rio Grande do Sul. Coordena a coleção Malungo, da UPF Editora, dedicada à publicação de trabalhos acadêmicos sobre a escravidão colonial.

SÍLVIA CAPANEMA PEREIRA DE ALMEIDA
Doutora em História pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris (2009), possui graduação em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (2001), pós-graduação em LLCE - Langues, Littératures et Civilisations Etrangères pela Université Blaise Pascal (2003) e mestrado em História pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (2004). Atualmente é professora (maître de conférences) na Universidade de Paris 13. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil República, atuando principalmente nos seguintes temas: Revolta dos Marinheiros de 1910,, Identidades, Acontecimento, Memória,  Democracia Racial e Pós-abolição, História Social e Cultural. Autora da tese: «’Nous, marins, citoyens brésiliens et républicains’: identités, modernité et mémoire de la révolte des matelots de 1910 », École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris, 2009.

TÂNIA MARIA TAVARES BESSONE DA CRUZ FERREIRA
Graduação em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1973), mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (1983) e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (1994). Atualmente é professor adjunto procientista da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil Império, atuando principalmente nos seguintes temas: história cultural, história política, relações culturais e história do livro e da leitura. Pesquisadora de Projeto Pronex coordenado pelo professor José Murilo de Carvalho, e vinculado ao Centro de Estudos do Oitocentos.

ZACHARY ROSS MORGAN
Autor da tese: Legacy of the Lash : Black and Corporal Punishment in the Brazilian Navy, 1860- 1910, Departamento de História da Universidade de Brown, 2001. Professor assistente no Boston College. Seu trabalho enfoca a história social, política e intelectual da diáspora africana para as Américas.